Entrevista:
Autoestima com Dr Flávio Gikovate
"A
baixaestima torna as pessoas ciumentas e dominadoras, atitudes
que as-sociamos a quem nos parece mais egoísta. Elas gostam
de botar banca, mos trar que estão ótimas, que se
adoram e são superfelizes.
Essas
pessoas toleram mal as frustrações e as inevitáveis
dores da vida."
O
que é autoestima?
GIKOVATE
É um juízo, um julgamento que eu faço a meu
respeito. É quando acho que sou uma pessoal legal, quando
estou satisfeito com a minha con duta. A autoestima ficará
em baixa se eu agir em desacordo com os meus próprios valores.
O
senhor pode dar um exemplo?
GIKOVATE
Se eu me propuser, por exemplo, a parar de fumar e não
parar, isso baixa minha autoestima. Se decidir fazer ginástica
todos os dias e honrar o que combinei comigo mesmo, isso me deixa
com boa autoestima. Quando minha razão se opõe às
vontades e a disciplina ganha, minha auto-estima cresce.
A
autoestima não tem nada a ver com beleza, vaidade, espelho?
GIKOVATE
Nem com se embelezar nem com cirurgia plástica. Uma mulher
pode ficar envaidecida por estar mais bonita, mas efeito de cirurgia
plástica não melhora a autoestima, porque a pessoa
não se empenhou, não se sa-crificou para ter aquilo,
não é mérito dela. A autoestima tem a ver
com mérito próprio.
A
opinião de outra pessoa sobre mim não influencia
minha autoestima?
GIKOVATE
Se a opinião das pessoas a meu favor no trabalho, por exemplo,
vierem de realizações que atribui a mim, embora
tenham sido obtidas por assessores meus, vou me sentir envaidecido.
Mas, como sei que a conquista não é minha, a autoestima
não será reforçada. Não existe mutreta
nesse jogo interno.
Como
os pais podem fazer com que os filhos tenham boa autoestima?
GIKOVATE
Não adianta aplaudir tudo o que o filho faz; isso é
subestimar a inteligência dele. Elogiar sem que haja merecimento
leva a criança a achar que tem algum problema e que precisa
ser aplaudido mesmo quando não merece.
Mas
os pais sempre influenciam?
GIKOVATE
A família deve transmitir valores. Se a pessoa não
tem nenhum sistema de valores, não tem autoestima. É
comum não seguir os valores, mas todo mundo sabe muito
bem que ser honesto é um valor mais digno do que ser ladrão.
Quais
são os valores fundamentais?
GIKOVATE
Você executar as tarefas às quais se dispôs,
ter disciplina, capa cidade de se colocar no lugar do outro, ser
justo nas trocas com as pessoas, não ser egoísta
nem querer mais do que dá. Ser esforçado, comedido
nas pretensões individuais, não ser exageradamente
ambicioso nem preguiço- so. E aí depende da cultura
- a nossa é ambígua, estimula mais a competiti vidade
que a lealdade.
O
senhor tem algum exemplo?
GIKOVATE
Certa vez, Diego Maradona fez um gol com a mão em uma final
de Copa e todo mundo achou o máximo. É um exemplo
negativo. Ser rico, por exemplo, é valor na nossa cultura.
Às vezes, nem importam os meios que a pessoa usou para
chegar a essa condição. Os valores deveriam ser
tratados de uma maneira mais clara pelas famílias que querem
ter suas crianças felizes, porque quem tem boa autoestima
é feliz.
Como
melhorar a autoestima?
GIKOVATE
Primeiro, construindo um sistema de valores, depois, agindo de
acordo com esses valores e desenvolvendo a disciplina. É
preciso que a razão vença as vontades, a preguiça,
a gula, o vício, a agressividade. É o controle racional
acionado sobre si mesmo que equilibra a autoestima e está
ligado à disciplina.
Como
desenvolver a disciplina?
GIKOVATE
A disciplina é o fruto de toda uma evolução.
A pessoa deve fazer acordos possíveis consigo mesma e ter
humildade de reconhecer que não está pronta para
mudar. Nesse caso, é melhor se propor metas que possam
ser atingidas.
Valores
são importantes na educação?
GIKOVATE
Os pais não educam com palavras, e sim com exemplos. A
ques-tão da disciplina é assim também. A
criança vê que os pais são trabalhado- res,
levam a sério o respeito com o outro e com os compromissos
assumidos são pontuais. Tudo isso define um estilo de pensar.
E
quem não aprendeu os muitos valores?
GIKOVATE
Quem cresce sem essa disciplina tem de tornar consciência
e co-locá-la como meta. Devagar, num longo e humilde processo
de crescimento, sem se propor coisas demais, subindo degrau por
degrau até chegar lá. Na-da que é radical
dá certo. O equilíbrio está no caminho do
meio. E é preciso também dar tempo para que as coisas
aconteçam.
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