
TIP - Tempo, Informação
e Poder - Estratégias e Táticas a Serviço
da Eficácia da Negociação
Um dos tópicos de maior interesse é este: táticas
e estratégias. Para o executivo brasileiro médio,
negociação é sinônimo de estratagemas,
de jogos de espertezas, através da utilização
das chamadas táticas sujas. Ledo engano. Minha experiência
mostra que executivos bem sucedidos são aqueles que se
utilizam de abordagens ganha-ganha. Estas sim, asseguram credibilidade,
eficácia e efetividade.
Estratégias e táticas são meios alternativos
para alcançar os objetivos desejados, tendo em vista as
condições peculiares da negociação
e do negociador. Estratégias e táticas não
são receitas ou macetes. De fato, o uso inoportuno pode
minar a confiança, requisito indispensável à
negociação. Há sempre um risco no seu uso
que deve ser avaliado em função dos resultados e
das condições em que se dá o processo. As
estratégias e táticas podem ser usadas ativa ou
reativamente. Não se deve esquecer que os valores do negociador
estão sempre envolvidos no processo. Uma medida que lhe
parece ética, pode não ser para o outro e vice-versa.
Vamos aos elementos de negociação eficaz TIP:
TEMPO
As táticas relativas ao Tempo referem-se à oportunidade
ou ao momento psicológico em que se colocam premissas ou
alternativas, na perspectiva do outro negociador; dizem respeito
também ao grau de pressão temporal exercido para
decisão do outro negociador. Eis alguns exemplos:
1. Estender o tempo (Vencer pelo cansaço...Ter paciência...)
2. Precipitar o desfecho (É agora ou nunca... É
pegar ou largar...)
3. Adiar (Vamos aguardar uma melhor oportunidade...)
4. Fixar limites (Vamos manter a reserva até... Vamos manter
o desconto até ...)
5. Usar o elemento surpresa (Aceito sua condição...)
INFORMAÇÃO
As táticas relativas à informação
admitem a possibilidade de que seu interlocutor não conceba,
não saiba ou não perceba as coisas do mesmo modo
que você. Eis alguns exemplos de táticas usuais relativas
à utilização das informações:
1. Simulação de cenários ( Que aconteceria
se...)
2. Mudança de perspectiva (Coloque-se no meu lugar...)
3. Comparação de alternativas (A opção
"A" tem as seguintes vantagens...)
4. Dissimulação (Não vem ao caso dar ênfase
a esse aspecto...)
5. Confusão (Colocar todos os dados possíveis sem
obediência a critérios ou prioridades)
6. Fornecer informações parciais ou tendenciosas
(só os aspectos positivos ou só os negativos)
7. Usar informações privilegiadas (Soube por tal
fonte que... Sob o ponto de vista técnico...)
PODER
A negociação envolve sempre a mudança de
condições atuais para condições desejáveis
para os negociadores. Para que alguém mude é necessário
que sofra uma influência que seja maior que sua capacidade
de resistir. Poder é a capacidade de provocar mudanças
ou impe dir que elas ocorram, de acordo com a própria determinação.
Eis alguns exemplos de táticas relativas ao jogo do poder.
1. Autoridade total (o que eu resolver será o resolvido...)
2. Autoridade condicional ou limitada (meu limite de alçada
é...)
3. Eximir-se de autoridade (Só posso decidir com o aval
de...)
4. Exigência (pressão chinesa) Se você melhorar
tal aspecto...
5. Confronto de opção (leilão) (Discutam
entre vocês... eu aceitaria a melhor proposta...)
6. Conjugação de forças (Aliar-se a alguém...
mudar a equipe ou parte dos negociadores)
7. Pechincha/barganha (Se você rever..., se você reconsiderar,
se você der ..., eu...)
8. Alteração das regras do jogo (O preço
pode ser mudado... As especificações serão...)
A seguir, e de forma detalhada, apresentamos as táticas
colhidas ao longo de nossa experiência, identificando se
relativas a Tempo (T), Informação (I) ou Poder (P).
Em casos de dúvida na Classificação, optamos
por mencionar o que mais se aproximasse. Nossa preocupação
é mais de aplicação prática do princípio,
do que acadêmica.
1. Negociação não deve ser uma batalha:
sempre há uma alternativa que possa beneficiar ambas as
partes, embora ela não pareça existir à primeira
vista (P)
2. Prepare seu planejamento por escrito, nunca decida nada que
não tenha sido objeto de planejamento anterior (I).
3. Comece sempre ouvindo sem opor resistência, analise e
fale depois; você obterá muito mais informações
sobre a outra parte (I)
4. Não se assuste com a agressividade inicial, a tranquilidade
desarma qualquer agressão. É só esperar.
Mantenha uma postura racional durante a negociação
(P)
5. Se ocorrer um grande obstáculo, evite enfatizar seus
problemas, procure ajudar o outro com os dele; isto certamente
aumentará a confiança dele em você (P)
6. Não queira ter todas as ideias, deixe algumas para seu
oponente. Seja sutil, deixe que suas ideias apareçam como
se fossem dele (P)
7. Lembre-se de que o outro pode não estar buscando necessariamente
dinheiro, mas outro tipo de necessidade: satisfação,
atenção, status, segurança etc. (P)
8. Quando ficar sem ação, diante de um problema
aparentemente sem solução, pergunte à outra
parte: "O que você faria em meu lugar"? O outro passará
a trabalhar para você (I)
9. Preços por escrito possuem mais força de convencimento
que valores expostos verbalmente; leve sempre uma tabela impressa,
um texto datilografado etc. (I)
10. Transmita à outra parte uma firme convicção
sobre seus pontos de vista, mas mostre-se sempre disposto a estudar
uma nova e boa ideia (I)
11. Suas metas devem ser altas, mas realistas; procure saber antes
as metas do outro (I)
12. Embora seu "ego" diga sim, você não é
obrigado a responder imediatamente a todas as questões.
Solicite tempo para pensar (I)
13. O conflito quase sempre é inevitável durante
a negociação: esteja preparado para ele; pense antecipadamente
em como contorná-lo (T)
14. A ambigüidade e a incerteza fazem parte da negociação;
aceite isso; ser paciente, é meio caminho andado (P)
15. Possuir autoridade total nem sempre é bom negácio,
especialmente quando você não se preparou para a
negociação (P)
16. Procure colocar o outro trabalhando para você. "Gostei
muito do seu produto, mas infelizmente ele custa 10 e só
tenho 9" (P)
17. Solicite vantagens extras, especialmente quando a outra parte
considerar a negociação praticamente fechada; psicologicamente
é o momento do outro ceder (T)
18. Os fatos superam os "feelings" (sentimentos); ao planejar
sua negociação, procure levantar dados concretos,
informações sobre o que for discutido. Além
de tornar a negociação mais racional (e não
emocional), os fatos permitem que a outra parte possa entender
a seguir mais facilmente seu raciocínio, sua linha de argumentação
(I)
19. Negocie pensando no amanhã: o processo de negociação
é algo que se repete, muitas vezes com a mesma pessoa.
Ao apresentar qualquer proposta ou argumento, indague-se antes
se aquela idéia pode ser boa apenas para ajudá-lo
a ganhar a negociação em curso, mas se será
também capaz de causar tal insatisfação na
outra parte que radicalizará futuros contratos (I)
20. A terceira Lei de Newton: não ameace para não
ser ameaçado, ouça para ser ouvido, considere as
necessidades e expectativas do outro lado, que terá a recíproca;
seja flexível para obter flexibilidade. Em negociação,
mais do que nunca, a toda ação corresponde uma reação
igual em sentido contrário com a mesma (às vezes
maior) intensidade (P)
21. Pessoas diferentes demandam negociações diferentes:
antes de iniciar qualquer negociação, procure desenhar
um perfil do outro negociador, do que ele gosta, não gosta
etc.; ele aprecia detalhes ou não? É muito orientado
para resultados imediatos? Gosta de ideias novas? Um de seus objetivos
é eliminar conflitos? Desenvolva sua argumentação
em função das características de cada negociador;
evite também comportamentos que possam não agradá-lo.
Se é a primeira vez que negociam, procure conversar antes
com pessoas que o conheçam, que possam traçar o
perfil dele (I)
22. O que é lógico pode não ser psicológico:
lembre-se de que sua "lógica" pode não ser igual
à "lógica" do outro. Se lhe for proposto algo que
lhe pareça absurdo, procure não agredir o outro,
acentuar eventuais diferenças. Responda: "Acho ponderável
sua observação, se me permite gostaria de adicionar
algumas informações". (Mencione então a sua
lógica, tanto quanto possível, justificada pelos
fatos) (I)
23. Gerar confiança é fundamental: este é
um dos grandes obstáculos à negociação.
Evite sempre deixar de cumprir o que prometeu, transmita ao outro
a sensação que você diz aquilo que pensa,
que não esconde o jogo ou informações relevantes,
aprenda a conviver com sentimentos, valores diferentes, não
seja demasiadamente crítico. Estes comportamentos tendem
a gerar maior confiança na outra parte (P)
24. Desenvolva contra-argumentos previamente: este é o
"calcanhar de Aquiles" de muitos negociadores. Tudo desmorona
quando a outra parte não aceita ou rebate seu "único"
argumento. Esteja preparado para seguir vários caminhos.
"Se ele não aceitar Y, vou propor X". "Se ele aceitar Y-A,
vou propor X-B" etc. Desenvolva planejamentos contingências/situacionais
(T)
25. Você pode "vender" o que o outro precisa "comprar" (seja
um produto, serviço ou ideia). O que o outro precisa comprar
deve ser mencionado por ele e não apenas pressuposto; isto
demanda tempo, pois implica na identificação das
necessidades da outra parte.
26. Levantamento dos motivos primordiais do interlocutor, atividade
sempre esquecida pelos negociadores. Exemplo: um excelente aquecedor
de ambiente é oferecido por um preço abaixo do mercado
(bom negócio!) não será vendido se o outro
negociador morar em Manaus ou Teresina (aquecedor é inútil
nesses lugares). (I)
27. A "pressão" e o interesse existem para os dois lados:
normalmente temos a tendência de imaginar que sofremos maior
pressão para negociar e que temos mais interesse na negociação
do que a outra parte. Esta presunção é perigosíssima,
pois pode encurtar o tempo de negociação em prejuízo
da qualidade, ensejar concessões inadequadas etc. Parta
do pressuposto de que ambas as partes estão interessadas
(pois do contrário não estariam lá negociando).
Se não acredita, verifique com o outro negociador, depois
de encerrada a negociação, os interesses e necessidades
de ambos, cotejando-os com sua presunção inicial
(P)
28. Quando estiver cobrando serviços, vendendo produtos
ou ideias, evite preços/valores totais, use números
parciais. Em vez de 3.000 dólares por um seminário,
use 150 dólares por pessoa, para um mínimo de 20
pessoas. Parece que é a mesma coisa, mais psicologicamen
te não é: valores parciais parecerão menores
à outra parte (I)
29. Inicie a negociação solicitando redução
de preço, vantagens extras etc. Isto deixará a oferta
e limitará as expectativas da outra parte (P)
30. Não se intimide por uma "oferta final": nos tempos
atuais, "tudo á negociável", por mais adequada que
lhe pareça a oferta proposta da outra parte, acrescente:
"Estou certo de que você pode me vender mais barato, apresentar
melhores condições ou desenvolver mais seu projeto"
etc. (T)
31. Diante de uma proposta absurda, reaja com o silêncio:
a outra parte tenderá a tornar mais razoável sua
oferta (T)
32. Procure ter tempo disponivel quando você negociar; isto
é especialmente importante quando o outro não tem
tempo. Procure identificar a urgência do outro ao início
da negociação ( Ex.: "De quanto tempo dispomos?")
(T)
33. Evite negociar por telefone, a menos que esteja muito bem
preparado, pois do contrário, é perigosíssimo;
você será obrigado a tomar decisões muito
rapidamente (T)
34. Comprar agora e negociar depois é uma tática
que deve ser usada quando não se tem tempo, ou o comprador
sente que o vendedor está "apertado" financeiramente, ou
quando o comprador tem muita confiançaa no vendedor (T)
35. Use o leilão japonês, isto é, coloque
três vendedores e você numa sala, debatendo o que
vai ser negociado. Procure fazer com que cada um fale sobre seu
produto (e indiretamente do produto do outro). Você obterá
informações extremamente significativas (P)
36. "O que aconteceria se": é uma tática útil
para extrair informações de quem está vendendo
ou comprando algo: Exemplo: O que aconteceria se: mudássemos
as especificações? reduzisse o prazo? fornecêssemos
o material? pagássemos o transporte? lhes déssemos
exclusividade? Esta tática permite descobrir informações
relevantes: custos do produto ou serviço, verificar experiência
ou expectativas do interlocutor, sua margem de lucro etc. (I)
37. Mocinho e bandido é uma tática utilizada quando
do outro lado temos duas pessoas. Uma sempre contra, irredutível,
outra sempre conciliadora, concordando conosco. O mocinho é
utilizado para granjear nossa boa vontade e cooperação;
para nos predispor a conceder (P).
38. Quando for colocar um ponto de vista, evite começar
a falar tomando uma posição (sim, não, a
favor, contra, etc.). Procure citar fatos, seguir a sequência
de raciocínio lógico; assim o outro poderá
entender o "caminho" que você usou para chegar a determinada
conclusão. A tomada de posição deve ocorrer
apenas ao final. (P)